segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Carta pra Drummond

Senhor Carlos,



Aos meus tristes e mal vividos 18 anos me tornei um gauche. Já me sinto um peixe na cratera solar!

Senhor Carlos, como foi difícil para o senhor viver na cidade grande, pra mim também é, que nasci e vivo até hoje. Ruas cheias, de sons desarmoniosos, o azul do céu, sr Carlos, já está cinza. Tudo perdeu o sentido, sinto fome, sinto dor, senti tanto, que deixei de sentir. Senhor, sabe aquela pedra, aquela que um dia o senhor iria tropeçar? Resolvi chutá-la, mas machuquei meu pé. Era para isso acontecer sr? Me sinto tão invadido, tão impessoal e apatriado, veja que loucura: o refrigerante que tomo, é norte americano, o copo de cristal, é do México, meu celular da China, o carro que ando é do Japão, minha televisão é Coreana e a namorada, é alemã. Poeta mór, como faço pra fugir da morte e ser imortal como você, mas será que imortal é algo que te faz feliz? Viver enchendo os corações alheios de tristeza e esperança, mesmo depois de ir, é responsabilidade demasiada. Senhor, me disseram para escrever, que a escrita desopila o figado e acaba ajudando a quem precisa ler. Mas senhor, quanto mais escrevo e as pessoas leem meus lamentos, me torno vários e isso faz com que elas queiram ou tentem participar de minha vida, que como disse, já deixou de ser e muito, minha!


Meu mestre, penso seriamente em deixar Minas e seguir rumo ao Rio. Declamar Vinícius em verso e prosa , tocar Toquinho e Tom em meu violão. Mas mestre, se partir, irei levar o pão de queijo, o “uai” e o escudo do meu galo, porém isso amenizará a falta que sinto de minha terra? Nunca fumei, nunca prostituí meu corpo, nunca usei drogas e nunca roubei, sequer, uma bala do supermercado. Só que, mesmo assim, a vida não é atrativa. A cada dia que passo, mais perto vivo a morte, as vezes escuto seu sussurro anoite em meu quarto.


Carlos, meu bom amigo! Nossas conversas, mesmo mudas, num quase monólogo são agradáveis. As vezes falo com seus poemas e pasmem, eles me respondem! Queria ser objetivo e coeso como vós, todavia, não aprendi a sintetizar todos os sentimentos prováveis e improváveis em duas frases. Acho também, que agora é improvável que me ensine. Talvez porque vosso corpo já virou pó e sua alma mito.


Então, o que é vida, se não, um passo largo para a morte?! Mas sei que não podemos menosprezar nem a menor dela, mas mesmo assim o fim é igual pra todos. Que estranho Drummond, logo estaremos juntos! Ou será que não?

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